
Com o novo filme dirigido por James Gunn reacendendo velhas questões, uma dúvida clássica volta a voar sobre nossas cabeças: como ninguém percebe que Clark Kent é o Superman?
A resposta rápida: ele usa óculos. Mas a real é que o buraco é bem mais profundo do que parece — e não, não estamos falando apenas de lentes comuns compradas em óticas de Metrópolis.
O novo longa do Superman não ignorou esse detalhe e, mais do que isso, reacendeu a teoria mais absurda (e brilhante) já inventada nos quadrinhos: os famosos óculos de Clark são feitos de material kryptoniano com propriedades hipnóticas. Isso mesmo. Tem sci-fi, tecnologia alienígena e psicologia social envolvidas.
Óculos hipnóticos? Sim, senhor.
A ideia surgiu nos quadrinhos dos anos 70, mais precisamente em Superman #330. Lá, é revelado que os óculos de Clark foram fabricados com fragmentos da janela da nave que o trouxe para a Terra. O material kryptoniano gera um efeito hipnótico involuntário, alterando a forma como as pessoas enxergam o rosto do herói.
Em outras palavras: quem olha para Clark de óculos literalmente vê outra pessoa. Em Action Comics #555, isso é levado ao extremo — o retrato feito de Clark o mostra como um sujeito calvo, magro e envelhecido. Nada de queixo quadrado ou superpostura.
A mágica vai além das lentes

Mas o disfarce não se resume à tecnologia alienígena. Com o tempo, roteiristas como John Byrne e Grant Morrison elevaram o truque ao nível da atuação psicológica. Clark muda a postura, a voz, o tom e até as roupas. Anda curvado, fala mais agudo, parece socialmente apagado. Como se o verdadeiro disfarce não estivesse no rosto — mas no corpo inteiro.
A performance de Christopher Reeve nos cinemas foi tão convincente que virou referência nos quadrinhos. A diferença de linguagem corporal entre o tímido repórter e o herói invencível era quase teatral. Segundo Green Lantern #44 (2005), até Barry Allen acreditava que o disfarce funcionava não pelos óculos, mas pela composição meticulosa do personagem Clark.
Virou piada — e funcionou mesmo assim
Claro que, por décadas, a comunidade geek fez piada. Afinal, “como ninguém reconhece um cara de 1,90m com o mesmo rosto, voz e corpo musculoso?” Em Superman #291, ele chega a usar um recorte de papelão de si mesmo para fingir que Clark e Superman estavam no mesmo evento. E deu certo… porque todos estavam usando óculos 3D. Clássico.
O verdadeiro segredo está em nós
No fim das contas, o disfarce é um convite à suspensão da descrença. Como já disse Grant Morrison, um dos maiores escritores de HQs da história:
“É uma história inventada, seu idiota! Ninguém enche o pneu do Batmóvel!”
E talvez seja esse o ponto. Superman sempre foi uma história sobre esperança, imaginação e a capacidade humana de acreditar no impossível. Se Jerry Siegel e Joe Shuster disseram que um par de óculos era suficiente, quem somos nós para duvidar?